
Era um fim de tarde em setembro, Ângela passara o dia naquela varanda. Olhava o horizonte, ansiando ver seu cavaleiro cruzar a linha que cortava o céu do campo...
Havia passado três anos desde que Pedro fora para a guerra, a cada término das batalhas ou quando ficava só, ele escrevia longas cartas para sua amada. Já no final do segundo ano as lutas foram ficando mais intensas e os ataques mais freqüentes não sendo possível Pedro escrever para ela.
Em sua cidade, Ângela permanecia com o coração apertado, havia um ano que não recebia uma carta de seu amado, apesar da falta de notícias, ela sabia que ele ainda permanecia vivo. Seu coração lhe dizia isso!
Naquele domingo ao acordar, sentiu que a volta de seu bravo cavaleiro seria em breve. Preparou tudo, arrumou a casa, colocou seu mais belo vestido, soltou seus longos cabelos, se perfumou e sentou-se na varanda, onde eles haviam se visto pela primeira vez. A noite chegou, porém sem seu guerreiro. Ela, triste, todavia permanecia com o coração ainda ardendo, e foi para o interior de sua casa...

Na guerra, Pedro, a cada noite sonhava com ela, desejava ver a peleja acabar, para então correr para os braços de sua Ângela. Queria recostar-se no seu ombro e sentir seu doce perfume, afinal acabara de se casar quando foi à guerra. Era o mesmo sonho todas as noites, ela, em sua varanda, com seu vestido de menina, com a tiara em seu cabelo, como no dia em que se conheceram!
...Assim, Ângela fazia todos os dias, levantava, preparava a casa, colocava seu vestido e sentava-se na varanda a espera de Pedro... Passaram-se seis meses e Ângela não se cansou um dia, e fazia o mesmo ritual a espera dele.
Naquela sexta, Ângela mais uma vez fez todo o ritual, mas desta vez foi até seu quarto e de dentro do baú pegou seu antigo vestido, aquele em que vestia quando o vira pela primeira vez... Vestiu-se e foi para varanda... Passaram-se algumas horas, a tarde caía e nada de ver Pedro além do horizonte.

Eram anos sem ver seu amado, mais de um ano sem noticias e sua esperança começava a se esvair. Com o olhar triste e sem anseio levantou-se pronta a entrar para o seu recanto, quando diante da porta ouviu o galopar, sua respiração ficou ofegante, ela não queria virar-se e mais uma vez se decepcionar.
O som foi ficando mais próximo e então ela se virou, e o viu puxar as rédeas do cavalo. Por um breve momento eles se olharam, o silêncio pairou, parecia o primeiro dia, mas diferente, um correu de encontro ao outro e se abraçaram...
Foi um abraço forte e duradouro, valia por todos os anos em que ficaram afastados, anos de choro, angústia e naquele momento era a resposta de que tudo valera a pena!
A espera foi longa, a saudade interminável, mas ao se reencontrarem perceberam que o amor continuava latente em seus corações!
O que nem a distância e nem a guerra, conseguiram apagar!